VOLTA RÁPIDA: HONDA BRIO


Quando qualidade não se conta em centímetros

Honda Brio

Estamos nas montanhas de Chiang Rai, na Tailândia, a pouco mais de 50 quilômetros da fronteira do Laos. Entre os 100 mil turistas que visitam a cidade de 749 anos, mais da metade é formada por japoneses de câmeras na mão e fones no ouvido. No saguão do hotel, porém, um grupo destoava. 

Caras fechadas e suadas, olhos no laptop e gestos rápidos - oito japoneses exibiam aflição acima da média. Pergunto ao gerente do lugar e descubro que os aflitos eram executivos da Honda. Eles estavam a apenas dois dias de apresentar ao mundo o Brio, a aposta da marca para enfrentar rivais de peso nos países emergentes. O Brasil é um desses países.
Takahiro Higuchi, o homem que projetou o Brio, suava a cântaros. E acredite: não era por causa dos 35°C da primavera tailandesa. “Confesso que estou um pouco nervoso”, disse ao passar o lenço na testa. “O Brio é muito importante para a estratégia global da Honda.” E é. 
O carro será produzido em quatro países, inclusive no Brasil, quando a produção do City, hoje feita em Sumaré, São Paulo, será transferida para a fábrica que a Honda construiu na Argentina. Aqui, o Brio será o carro de entrada da marca e vem para custar R$ 30 mil. É com esse compacto que a Honda entra de fato na briga para ser gente grande.
Honda Brio

Minimalista


A ambição é inversamente proporcional ao tamanho do carro. São 3,61 m de comprimento, 1,68 m de largura e 1,48 m de altura. E 2,34 m de entre-eixos. Em resumo: o Honda é um pouco menor que o novo Fiat Uno. O design foi influenciado pelo que os japoneses chamam de “Double Tri-Angle Form” que, dizem, passa a sensação de movimento constante. O polêmico formato das lanternas se deve à missão dos projetistas em fazer o carro parecer mais largo do que ele realmente é.
Honda BrioO modelo que avaliamos é o topo de linha, que vem com chave com controle remoto, imobilizador e alarme. Mas há um detalhe pequeno, inaceitável até em um carro barato. No painel da porta, a Honda preferiu deixar exposta a chapa na parte interna dos porta-trecos laterais. Isso pode ter sido influenciado pelo novo conceito de design, mas, definitivamente, não é harmônico com o restante da cabine. O antigo Ford Ka usava esse recurso.
O espaço na dianteira é uma beleza. O desenho do banco lembra vagamente o do CR-Z, mas não tem regulagem de altura do assento. Já a coluna de direção é regulável em altura. A posição ao volante é similar às de Fit e City. Se você já dirigiu a dupla, será fácil se encontrar no Brio. 
A natureza de um carro barato é ter uma cabine minimalista – e a novidade não foge à regra. O painel é feito de plástico reciclado. Isso pode soar barato, mas a sensação de qualidade depende mais da textura dos plásticos do que da qualidade do material em si. O time de design fez de tudo para passar a sensação de uma peça larga. Assim, os instrumentos no painel têm um posicionamento tridimensional. Se você dirigir moderadamente, uma luz “ECO”, uma espécie de econômetro, acenderá.
O assento do banco é relativamente curto, mas adequado. Após duas horas ao volante, não senti dores nas costas. Mas bem que o Brio podia contar com um descansa -braços central.
Já o espaço para a cabeça não será problema se você tiver até 1,80 metro. Mas, se você for mais alto que isso, hummm... E pior é entrar pelas portas traseiras – elas são minúsculas. Ei, Honda, que tal mudar isso antes de o carro começar a ser feito no Brasil? Agora, depois do contorcionismo ao passar pela pequena porta, a surpresa é boa. 
O espaço é bem melhor do que se imagina do lado de fora. O porta-malas tem capacidade de 220 litros – são 60 litros a menos que o Uno. E o banco traseiro não pode ser rebatido na forma 40/60. Motivo? A Honda diz que o recurso acarretaria aumento de custos. E o Brio foi concebido para custar pouco.
Honda Brio

Passeio divertido


Ligo o motor e parto rumo ao litoral. O display do rádio começa a piscar um “Welcome to Honda”. Agradeço inconscientemente as boas-vindas e percebo que há uma entrada USB e outra auxiliar para você conectar o MP3 Player ou o pendrive. Mas não há CD Player. A qualidade do som produzido pelo aparelho não é tão boa quanto a aparência sugere, mas é superior à do Gol. O sistema de ar-condicionado é eficiente e refrigera rapidamente o ambiente.
Embaixo do capô vive um motor que você conhece, mas diferente. A Honda pegou o 1.5 que equipa Fit e City e o ajustou às normas tailandesas de carros econômicos: reduziu a cilindrada de 1.496 cm³ para 1.198 cm³. Ele tem 73 mm de diâmetro e 71,6 mm de curso. A taxa de compressão foi ajustada para 10,2:1. 
O sistema i-VTEC e o acelerador eletrônico foram mantidos neste motor. O resultado final são 90 cv a 6.000 rpm e um torque de 11,2 mkgf a 4.800 rpm. Há duas opções de transmissão – manual e a eficiente CVT, que traz novo conjunto de conversor de torque e de bloqueio deste conversor, para reduzir o consumo em velocidade constante. A alavanca de câmbio e algumas outras partes vêm do Fit.
Finalmente, fomos autorizados a fazer o test drive. Para ter uma ideia de como o 1.2 manual se comporta, medimos os tempos de 0 a 100 km/h e de retomada de 80 a 120 km/h. Com um calor de 35ºC e uma gasolina de qualidade desconhecida, nós chegamos aos números de 14,9 s para partir da imobilidade aos 100 km/h e de 11,1 s para a retomada. 
A Honda decidiu limitar a velocidade máxima do Brio em 145 km/h. Cento e quarenta e cinco, você leu certo. A fabricante alega que a proposta é melhorar a segurança de condução e, como a velocidade máxima permitida pela lei é de 120 km/h, 145 km/h seria um valor razoável e serviria a uma viagem curta perfeitamente.
Honda Brio

Ao pisar no acelerador, o motor rugia e chorava toda vez que ia até a linha vermelha. Motores pequenos e aspirados, em grandes altitudes, precisam de giros altos para mostrar suas qualidades. Neste caso, precisávamos ver a agulha do mostrador ultrapassar os 4.000 rpm para enxergar algum torque. 
Mas isso é realmente ruim? Nem tanto. Você pode fazer uma viagem com quatro pessoas a bordo e o carro ainda irá oferecer uma aceleração decente (para a capacidade do motor). Só não espere que ele deixe o Gol para trás.
Com a transmissão manual, as trocas são bem calibradas. A direção por pinhão e cremalheira é auxiliada por um motor elétrico. Não é preciso muito para descobrir que a agilidade do Brio na cidade é fruto do ótimo acerto da direção. Não há nada a mudar aqui. E estacioná-lo é muito fácil - o raio de giro é de 4,5 metros.
 Aumente a velocidade e você encontrará uma direção com o peso certo, claramente superior à da concorrência. No entanto, em velocidades acima de 80 km/h, a direção poderia ter um pouco mais de peso para aumentar a sensação de segurança. A relação foi configurada para uso urbano e isso significa que ela é um pouco rápida demais em velocidades muito altas.
Com suspensão McPherson na dianteira e eixo de torção atrás, o Brio torna o seu passeio na montanha mais divertido do que você imagina. Há ABS e EBD. Tanto na subida como na descida, o Brio ataca as curvas em velocidades de 60 a 70 km/h. A rolagem da carroceria é mínima e o controle é bem previsível. Nota 10 - ainda mais sabendo que estamos ao volante de um carro popular. A suspensão é o exemplo do esmero dos engenheiros da Honda em acertar o conjunto.
Honda Brio
Relaxamento
Chegamos à praia. Encontro Higuchi em um quiosque. Ele sua, mas dessa vez não há rugas na testa. Claramente ele está relaxado. E é para estar mesmo. Higuchi sabe que a Honda fez um bom trabalho no desenvolvimento do Brio. 
]Indiscutivelmente, o carro traz características de condução muito próximas das de modelos mais caros. É divertido, ágil e responde bem às mudanças de direção. O motor, embora pouco potente, não compromete no uso urbano.
Mas ainda há detalhes a serem resolvidos. O acesso ao banco de trás, a capacidade do porta-malas, o acabamento dos painéis da porta, a direção que poderia ser mais firme em velocidades mais altas... 
E vale lembrar que a versão brasileira terá acabamento e detalhes externos um pouco diferentes dos do carro tailandês.Se ele é melhor que Gol, Palio e Fiesta? A resposta é: depende do que você procura. Mas posso dizer que o Brio é 100% Honda (o que é ótimo) e tem qualidades inversamente proporcionais ao seu porte. Melhor: ele mostra que diversão não é exclusividade de gente grande.

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